segunda-feira, 13 de março de 2017

Dry Fire - Programa de Treinamento

Por: Francisco Pinto

Dry Fire 

Todo grande campeão de tiro dedica a maior parte de seu tempo de treinamento ao Dry Fire, que é o treinamento realizado com a própria arma, usando munição inerte, ou com Airsoft e outros simulacros. Nessa foto acima, por exemplo, o atirador usa uma arma de laser, para treinar e poder checar sua precisão. Treinar dessa maneira faz com que você assimile todos os fundamentos do tiro: empunhadura, posições, uso dos aparelhos de mira, controle de gatilho, respiração (no caso do tiro de precisão), saque e outros detalhes. Tudo isso no conforto de sua casa e sem gastar munição e nem tempo. se deslocando para um stand. 

Dry Fire faz com que o atirador crie "intimidade" com sua arma. Entretanto, para que ele funcione, e Dry Fire costuma funcionar muito bem, é preciso que você crie uma rotina de treinamento. Treinar uma vez por semana apenas, mesmo que seja um treino longo, não irá lhe trazer muitos benefícios. O ideal é programar treinamentos curtos, em média de 15 a 30 minutos, no máximo, mas que sejam realizados com frequência de ao menos 3 vezes por semana. Recomendo que, no início desse programa, você treine todos os dias, se conseguir fazer isso nos primeiros 15 ou 20 dias já seria ótimo. Após essa fase pode reduzir seu treino para 3 vezes por semana. 

No primeiro mês seu treinamento deve ser feito com movimentos lentos, bem lentos e suaves, ou seja, faça com lentidão e fluidez, sem paradas. Isso é importante, não procure velocidade no começo de seu programa de treinamento. Inspire-se nos músicos. Um instrumentista, para executar uma peça musical, começa tocando-a numa velocidade muito abaixo da pedida na partitura. Isso é feito de forma lenta, buscando a perfeição dos movimentos e a criação da chamada "memória muscular". Depois dela criada o músico vai gradativamente aumentando sua velocidade de execução, até chegar a um ponto em que tocará muito rápido e com perfeição. 

Memória Muscular e Mielinização

Chris Sajnog - Instrutor de tiro dos Navy Seals norte-americanos

Recentemente li num artigo de Chris Sajnog, chefe dos instrutores de tiro dos Seals, uma explicação científica para essa forma de adquirir "memória muscular" usada pelos músicos e, hoje, adotada pelos Seals em seus treinamentos Dry Fire (sim, os Seals treinam Dry Fire e usam Airsoft para isso). Sajnog explica que esse processo se chama "Mielinização". Quando você executa um movimento é criado um "caminho" de comunicação entre os neurônios, desde seu cérebro até os músculos acionados. A bainha de mielina dos neurônios é o ponto de comunicação entre eles. Ela é que leva o impulso neural até o outro neurônio. Quando você executa um mesmo movimento diversas vezes vocês desenvolve essas ligações, específicas para essa movimentação, criando um caminho com conexões mais fortes. 

                                           

A necessidade de criar esse caminho com movimentos lentos é porque se você fizer isso com mais velocidade tende a cometer pequenos erros. Criando alguns "atalhos" equivocados dentro do caminho de ligações neurais que seria o correto. Seu cérebro não sabe qual é o caminho correto ou errado, ele apenas cria caminhos de acordo com sua movimentação repetida. Portanto, na hora de um combate real ou de uma competição de tiro, você poderá errar por tomar um desses "atalhos" não corretos, caso tenha treinado correndo e cometendo pequenos erros. Experimente de forma lenta nos primeiros 20 dias, você verá que ao final dessa fase a velocidade virá de forma natural e seus movimentos serão executados com perfeição. 

Caderneta de Treinamento

Capa do Livro de Bryan Enos

Outro procedimento de nosso treinamento é ter uma Caderneta de Treinamento. Uma espécie de diário, no qual você ira anotar tudo o que aconteceu em cada treino seu, com detalhes. Bryan Enos, um verdadeiro mito vivo do IPSC - International Practical Shooting Association, em seu livro Beyond The Fundamentals (Além dos Fundamentos), afirma que um treinamento é eficaz somente se você o fizer conscientemente e observando os mínimos detalhes do que acontece com você durante esse processo. É necessário que você preste muita atenção a tudo que está acontecendo durante seu tiro, busque sempre encontrar onde está errando e porque está  acertando. O tiro é uma experiência muito pessoal, nele é preciso aprender com os outros, com nossos mestres, mas também, e principalmente, é preciso que você aprenda com você mesmo, com seus erros e acertos. Iremos um pouco além da recomendação de Enos e vamos anotar tudo o que percebemos com nosso treino consciente, se você não tomar nota do que observou durante seu treino, poderá esquecer tudo o que aconteceu e, no próximo treinamento, estará começando da "estaca zero" novamente. Na sua caderneta anote sempre: data, objetivo do treinamento, qual exercício irá executar, arma e coldre que vai usar, numero de disparos, tempo de duração do exercício e suas observações detalhadas de como está procedendo, efeitos e causas de atitudes tomadas, mudanças, melhorias feitas etc. Veja na foto como faço em minha caderneta e perdoe-me pela letra sem capricho. 

Minha Caderneta de Treinamento

Segurança

O treino Dry Fire deve obedecer as mesmas normas de segurança do treino de tiro real, sua arma deve ser tratada com se carregada estivesse, mesmo se ela for airsoft. Obedeça todas as normas de segurança de costume e mais essas: 
- Nunca deixe munição real dentro da sala onde for treinar dry fire.
- Antes de iniciar o treino guarde toda munição real num compartimento fechado fora do local de treinamento.
- A cada vez que sair do local de treinamento, verifique, ao voltar, se sua arma está sem munição real, mesmo que tenha certeza absoluta de que ela está fria..
- Use óculos de segurança. a bolinha de airsoft retorna do alvo com força mais que suficiente para cegá-lo, caso não esteja protegido pelo óculos.
- Use óculos de procedência conhecida, de preferência que sejam testados por entidades que atestem sua eficiência contra acidentes. 

Primeiro Exercício  - Distância ideal do alvo é de 4 metros
Exercício para tiro com visada e para criar memória muscular do ângulo correto de empunhadura aos que irão treinar o Defendu, com tiro sem uso dos aparelhos de mira.


1) Com a arma empunhada com as duas mãos e em posição de pronto-emprego eleve-a até a posição peitoral alta, estique os braços, levando a arma até a altura dos olhos, alinhe as mira com seu alvo, sem acionar o gatilho, repita isso 10 vezes, sem pressa.

2) Com a arma no coldre, saque, traga-a até a posição peitoral alta, eleve-a, coloque-se em posição de tiro alinhando o aparelho de mira com o alvo, sem disparar, dedo fora do gatilho. Faça esses movimentos bem lentamente e buscando a perfeição de empunhadura e posição de tiro, essa preparação irá criar sua "memória muscular" para o saque. Repita 10 vezes.

3) Com a arma no coldre, repita o movimento do exercício anterior, lentamente e com fluidez, mantendo seu saque e apresentação com suavidade. Não dispare, alinhe as miras com o alvo e toque seu indicador na tecla do gatilho, sem disparar. Repita 10 vezes.

4) Repita o exercício anterior acrescentando o disparo. Monitore a movimentação de sua arma durante o disparo, e a cada novo tiro tente manter a arma e o alinhamento do aparelho de mira com o alvo o mais estável possível, repita 20 vezes (usando Airsoft ou Arma de Pressão poderá conferir sua performance no alvo).

Posição Peitoral Alta (posição de retenção do DEFENDU)


Se você é um atirador de tiro de precisão, mantenha esse mesmo exercício por quatro semanas. Não se esqueça de concentrar o foco de sua visão na massa de mira, isso é muito importante. Seu alvo e a alça de mira ficarão um pouco desfocados em sua visão. 

Foco da visão concentrado na massa de mira


Se você é praticante do DEFENDU, faça esse exercício por apenas uma semana e passe ao seguinte.
Em 30 dias colocarei nesse Blog outro artigo com a sequência de nosso Programa de Treinamento Dry Fire. 

Segundo Exercício (semana 2, 3 e 4) Distância ideal do alvo 4 metros

1) Saque sua arma do coldre, traga-a até a posição de retenção peitoral alta, empunhe-a com as duas mãos. Use as técnicas de tiro indexado e uso do meridiano central ao mesmo tempo, dessa posição dispare contra o alvo humanóide. Repita 30 vezes em três séries de 10 tiros. Observe e corrija o ângulo de empunhadura de forma a atingir a região central do alvo na altura do coração. 
2) Saque sua arma do coldre, traga-a até a posição de retenção peitoral alta, empunhe-a com as duas mãos, eleve-a à altura do queixo e dispare. Use as três técnicas de tiro sem uso de miras do DEFENDU: tiro indexado, meridiano central e visada de trap. Repita isso 50 vezes, em 5 séries de 10 tiros. 
3) Saque sua arma do coldre, traga-a até a posição de retenção peitoral alta, empunhe-a com as duas mãos, eleve-a à altura dos olhos, alinhe as miras e dispare. Repita isso 20 vezes em duas séries de 10 tiros. 

Lembre-se, os 30 primeiros dias são feitos com lentidão e fluidez. Anote na sua caderneta, com todos os detalhes, suas percepções sobre o treino. Em 30 dias colocarei nesse Blog a sequência do treinamento.  

Bom treino!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Enchendo o pente de balas... Será que estou fazendo algo errado?


Não estou, não. Muito menos estou eu falando algo errado. Porém, falar isso, hoje em dia, em um estande de tiro, é motivo de horror por parte de alguns atiradores. Sendo também, muitas vezes, ensejo para imediatas piadas, logo um fala: "as balas que vai colocar no seu magazine são de hortelã?" ou "e depois vai pentear alguém com esse seu pente?"
Estariam esses humoristas de plantão certos ao fazer essas piadinhas? É errado falar pente ou bala? As nomenclaturas corretas seriam carregador e munição ou magazine e cartucho?

Vamos começar pelas balas. Por favor, abram seus dicionários e vão constatar que bala, além de ser o termo usado para um tipo de confeito, é também a denominação usada para munição de arma de fogo. Nem precisa abrir o dicionário, basta acessar esse link: BALA. A informação do dicionário é correta, sim. Caso contrário o estudo de sua trajetória e efeito não se chamaria Balística e sim "Projetilística" como alguns atiradores podem pretender. Tudo se explica na etimologia da palavra, sua origem é do Latim e vem do termo Bulla, que na língua inglesa se tornou Bullet e no francês Balle, todas significam bala, munição. E bulla, do latim, quer dizer "um objeto pequeno e redondo", algo como: pelota ou bolinha. Assim os confeitos em forma de bolinha receberam o nome de bala e os primeiros projéteis, também redondos, foram batizados com o mesmo nome.

Passemos ao pente. Podem abrir esse outro link: PENTE. e verão que um dos significados dessa palavrá é: "peça onde se encaixam os projéteis de armas automática... pente de balas". Vejam as bala aqui novamente. Sua etimologia tem duas explicações, uma grega, que significa "cinco", de onde vem Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) ou Pentacampeão. Outra do Latim "pectum", que significa pente mesmo, de pentear os cabelos. Mas as duas se unem, pois o termo pectum, o pente do latim, designa um instrumento que, em semelhança à ação dos dedos da mão (que são cinco, com exceção do nosso ex-presidente Lularápio), ajeitam os cabelos, portanto o pectum se originou dos cinco dedos. A disposição das munições, de formato cilíndrico alongado, dentro do carregador ou pente, assemelhada ao desenho dos dedos encarreirados na mão humana foi o que lhe deu o nome de Pente.

A verdade é que não existe um "Compêndio Oficial de Termos do Tiro". Os termos que usamos foram estabelecidos pelos usos e costumes. Hoje, se usa mais chamar pente de carregador ou magazine e bala de cartucho ou munição. Anteriormente, no tempo em que magazine era uma loja chique para comprarmos roupa e carregador era aquele moço que contratávamos para carregar nossas malas, os termos em uso eram pente e bala. Podem ter saído de moda, mas não estão errados. Ou teríamos que modificar nosso modo de falar, não poderíamos dizer que o aquele corredor é rápido como uma bala ou que andamos, no Japão. no Trem Bala. Teríamos que dizer Trem Projétil.

Entretanto, mesmo que houvesse uma regra pétrea para os termos estabelecidos oficialmente como corretos. Seria proibido usar alguma gíria ou apelido? Todos os outros esportes tem gírias próprias, e os atletas as usam sem qualquer repressão ou repreensão, com certeza. Só o pessoal do tiro seria chato o suficiente para proibir uso de gírias? Bobagem, não acham?

O esporte do tiro e a caça são muito maiores do que essas pequenas picuinhas de nomenclatura. Vamos nos dedicar mais à prática esportiva e ao coleguismo e amizade, que sempre estiveram presentes no nosso esporte. É feio ficar corrigindo os colegas no estande na presença dos outros amigos! Isso, sim, é uma regra culta da educação. Está duvidando? Pode procurar no livro do Marcelino* que lá está escrito!


 *  Marcelino de Carvalho (1905-1978) - jornalistaescritorcronista e um mestre de etiqueta nos anos de 1950, tendo seus livros permanecido clássicos nas décadas seguintes 


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Revólveres MAGNUM - uma criação de Elmer Keith


Revólver Freedom Arms SM-97 em calibre .44 Magnum
Por: Francisco Pinto

Os revólveres em calibres Magnum são apreciados por muitos atiradores brasileiros, principalmente pelos chamados "revolveiros", os aficionados ou poderíamos até dizer "tarados" por revólver. São a máxima expressão do revólver, com tamanho avantajado, potência de sobra e impressionante beleza expressa nos diversos modelos fabricados, como pode ser visto no Freedom .44 Magnum da foto acima. O que poucos sabem é que o conceito Magnum tem paternidade reconhecida. Assim como tudo no mundo das armas, há sempre uma mente brilhante por trás de modelos, calibres, táticas, técnicas e outras invenções. O mundo das armas também tem história e cultura própria, o que aqui em nosso país é raramente lembrado. Cresci bem próximo desse mundo das armas e me orgulho de ter tido ídolos bem diferentes de meus amigos de escola. Enquanto esses veneravam Beatles, Rolling Stones, Black Sabath e outros, meus ídolos eram John Moses Browning, Rex Applegate, Jim Bowie, Jeff Cooper, Jack Weaver e demais grandes nomes que promoveram a evolução das armas e das suas técnicas de uso. Por conta disso, sempre que falo de uma ou outra arma, gosto de citar quem foi responsável por essa criação. 

Elmer Keith   (1899-1984) 

O pai dos Revólveres Magnum foi um estancieiro norte-americano do Estado de Idaho, atirador, especialista em armas, escritor e caçador chamado Elmer Keith. E foi a paixão pela caça, em especial com uso de armas curtas, que levou Elmer a pensar e desenvolver os calibres Magnum. Hoje, a caça com armas curtas encontra milhares de adeptos no mundo todo, entretanto na época de Elmer poucos eram os caçadores que se propunham a usar uma arma desse tipo. A caça com revólver ou pistola é por si mais trabalhosa e difícil, o caçador precisa se aproximar mais da presa do que quando com um rifle, aumentando o risco de que essa fuja ou o ataque, somado a isso não existiam calibres de armas curtas com potência para caça maior, como para ursos, búfalos e mesmo javalis de grande porte. Elmer tinha que concentrar seus esforços na caça de antílopes, os Deers da América do Norte. Mas sua paixão pelo Big Game, a caça pesada, fez sua criatividade e habilidades de armeiro e especialista em recarga trabalharem para romper essa limitação das munições pouco potentes. 

Elmer caçando com um Smith & Wesson Model 29

O primeiro calibre a trabalhar no conceito magnum, foi o .38. A ideia era criar um .38 mais potente. A princípio, em armas da época com construção mais robusta, usou recargas bem além das cargas normais do que os cartuchos de fábrica. Depois, como tinha acesso e bom relacionamento com a direção da Smith & Wesson, conseguiu que essa empresa desenvolvesse modelos de armas especialmente desenhados para as pressões do novo .38, denominado .357 Magnum, cujo calibre real era o mesmo do .38, tendo apenas seu estojo mais longo. Com isso, as armas novas poderiam ainda usar munição .38, pois esses cartuchos cabiam em seu tambor, entretanto o contrário era impossível, o .357 Magnum não cabia nos revólveres desenhados apenas para uso de .38. O primeiro revólver .357 Magnum foi produzido em 1935, o Smith & Wesson Model 27. Uma arma capaz de abater os Deers, Mule Deers e Javalis de médio porte norte-americanos. 

Smith & Wesson Model 27, o revólver .357 Magnum original

Alguns anos mais tarde, ainda em busca de maior potência, Elmer estendeu essa ideia inicial ao calibre .44 Special, criando, também em parceria com a Smith, o primeiro revólver .44 Magnum no ano de 1956, o Smith & Wesson Model 29. Agora Elmer poderia abater qualquer animal da fauna de seu país, inclusive seus Búfalos, grandes Javalis e Alces. Entretanto o revólver não foi um grande sucesso de venda. Os atiradores e policiais não estavam acostumados com tanta potência numa arma curta. O mercado de armas de segunda mão se inundou de revólveres .44 Magnum dos quais seus donos desistiram, por acharem muito exagerado seu recuo ao atirar. Parecia que seu público alvo seria restrito aos caçadores.  

Smith Wesson Model 29 de numeração 31, feito especialmente para Elmer Keith


O cinema se encarregaria de mudar o perfil dos compradores do Modelo 29. Em 1971, Clint Eastwood encarnaria o personagem do oficial de polícia Callahan, o Dirty Harry, que usava justamente um .44 Magnum. O sucesso de público que transformou esse filme num clássico, também em clássico transformou o Modelo 29. Todo policial, atirador, caçador etc, queria ter um .44 Magnum igual ao de Dirty Harry. Assista a cena abaixo, com certeza também você terá vontade de possuir um Smith Model 29. 

 

A última criação de Elmer e Smith Wesson seria o .41 Magnum, desenvolvido a partir do .41 Long Colt. Esse calibre Magnum é muito pouco conhecido no Brasil, aqui podemos chamar até de calibre exótico, que seria o meio termo entre o .357 e o .44 Magnum. Foi lançado em 1963 e mesmo nos E.U.A. não obteve muito sucesso, terminando como o Magnum menos popular. Seu revólver original foi o Modelo 28, chamado Highway Patrolman (Patrulheiro Rodoviário). 

 Patrulheiro Rodoviário com o Model 28 em .41 Magnum

O conceito Magnum foi além dos lançamentos de Elmer, nos anos 1950, Dick Casull desenvolveu, a partir do clássico .45 Long Colt, o calibre .454 Casull, que assim como os Magnuns de Keith, poderia usar munição .45 Long Colt e também o .454 Casull. As fabricantes Freedom, Ruger e Taurus fizeram excelentes armas para esse calibre, que é mais potente que o .44 Magnum e ótima opção para caça pesada. 



Outros calibres Magnum, chamados Big Bore, e armas vieram em seguida. Dentre essas vale lembrar: o .50 Action Express, que é usado na pistola Desert Eagle, colocando também as pistolas no mercado de armas curtas para caça. 

Desert Eagle .50 AE

E o atual mais poderoso calibre de arma de mão, o .500 Smith & Wesson.

Smith & Wesson 500 Magnum

Quando pensava que nada maior que o 454 Casull poderia aparecer, a Freedom lançou um revólver em calibre de rifle 45-70 e, logo depois, a Smith & Wesson cria o S&W 500. Agora é esperar para ver o que mais o mercado nos reserva em termos de potentes armas curtas, que estão, na verdade, deixando de ser "curtas" e fugindo um pouco da proposta inicial de Elmer Keith. Ficando mais próxima de algo híbrido, que poderia definir livremente como Rifles de Mão. 

Para quem queira conhecer um pouco mais de Elmer Keith, que também fez história como escritor especializado em armas e caça, pode acessar esse link, onde encontrará em língua inglesa diversos trabalhos por ele escrito, vale a pena ler.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Snub Nose - O revólver compacto de cara nova

Smith & Wesson Snub 625 em .45 ACP

Por: Francisco Pinto

Os Snub Nose, numa tradução livre: "Nariz Arrebitado", são os revólveres compactos com cano de até três polegadas. Eles existem no mercado desde o final do século XIX, sendo que primeiro foram fabricados pela Colt, nos modelos Sheriff's Model e Banker Special. Esse estilo de arma busca uma melhor portabilidade, oferecendo maior conforto a quem a leva consigo, bem como facilidade de ser melhor oculta em sua roupa. Esse conceito inicial vem de uma necessidade que permanece atual até nossos dias. Quem é profissional de segurança e precisa portar uma arma de forma oculta consigo sabe o quanto é desconfortável usar uma arma grande durante o dia todo. 


Colt 1877 Sheriff's Model

Como o mundo das armas também está sujeito à moda, os Snub tiveram momentos de alta e baixa na sua história. Na década de 50 contaram, no mercado Norte Americano, com um impulso por conta da influência de dois grandes nomes das armas naquele país, Coronel Rex Applegate e Jonh Henry FitzGerald. Sobre o primeiro já tive oportunidade de escrever algo nesse Blog, Applegate foi um dos maiores especialista no tiro de combate do século XX. Já FitzGerald foi um preparador de armas e atirador de exibição. Por conta de suas habilidades extremas com uma arma, trabalhou para a Colt por quase trinta anos fazendo demostrações de tiro com seus revólveres. 

FitzGerald - em propaganda da Colt

A pedido de Applegate, que era grande entusiasta dos modelos compactos para uso na defesa e combate, John Henry desenvolveu um modelo customizado de Colt, transformando um Colt .45 New Service em um peculiar Snub Nose. A arma ficou conhecida como "Fitz Special". E os norte-americanos compraram Snubs feito pão quente. 

Colt "Fitz Special"

A febre das pistolas de grande capacidade de munição veio e os Snubs ficaram por um bom tempo esquecidos, até o final dos anos 80 e começo dos 90, quando novamente despontaram com uma boa opção de "segunda arma", principalmente para policiais. Nessa época a brasileira Taurus ganhou uma considerável fatia do mercado americano com a oferta de vários modelos de Snubs. Também no Brasil, nos anos 80, quando o cidadão ainda tinha o direito de poder se defender, com o apelido de Buldoguinho, os Snubs foram muito populares.  

Snub Nose Taurus

Novamente as pistolas ofuscaram os Buldoguinhos por bons anos, mas eles teimam em se manter atuais. Os fabricantes de arma estão dando aos Snubs uma "cara nova", criando versões com novas tecnologias, tornando-os mais modernos e até mais portáteis ainda do que já eram. Primeiro trouxeram as inovações das pistolas para o universo do revólver e a Ruger lançou o LCR, que usa polímero em sua estrutura, assim como as famosas semi-automáticas Glock e HK. Resultando numa arma mais leve e portátil. A Taurus a seguiu e colocou no mercado o modelo PLY, também com chassi em polímero. 


Ruger LCR em 9mm       e        Taurus LCY em .357 















E as inovações continuaram. A grande revolução ficou por conta da Chiappa, fabricante italiana do revólver Chiappa Rhino, cujo cano se alinha com a câmara baixa do tambor. Na foto demonstrativa perceba que onde deveria estar o cano temos uma barra estrutural, abaixo dela é que se encontra o cano. O desenho pode ser contestado em relação aos parâmetros estéticos adotados, mas esse revólver é o mais estável já fabricado no mundo. Seu recuo ao disparar é muito menor do que o de qualquer outra arma curta, por conta do alinhamento do cano com o punho do atirador. Além da posição do cano, a arma tem o tambor sextavado e não redondo, proporcionando a ela um perfil plano e mais delgado, facilitando seu porte.

Chiappa 200DS em .357


A última novidade, foi lançada em 2016 no Shot Show pela Kymber. A posição de seu cano é a tradicional, mas esse Snub adota o formato de tambor do Chippa. Por conta disso não seria inovação digna de destaque, não fosse a Kymber a melhor conceituada e tradicional fabricante apenas de pistolas em modelo 1911, o mais amado modelo dos norte-americanos. Seria algo como termos o Rolls Royce das pistolas curvando-se em reverência ao bom e velho Snub Nose. 

Kymber K6s em .357

sábado, 17 de setembro de 2016

Premiações e Campeonatos realizados no CTC - Centro Tático Cobras de Boituva


No sábado passado, 10 de setembro de 2016, realizamos mais uma etapa de dois campeonatos realizados no CTC - Centro Tático Cobras e organizados pelo COB - Clube Olímpico Boituva. Ambos esses campeonatos apresentam regras e modalidades esportivas iguais e são de tiro de precisão, abrangendo desde o tiro com Carabina de Ar Comprimido, até com Revólveres, Pistolas e Carabinas em calibres .22 e .38. As regras e maiores detalhes podem ser vistos pelos atiradores e interessados em participar no SITE DA CBC especialmente desenvolvido para a orientação e acompanhamento do Campeonato Regional CBC.

Marcos, acompanhado de sua esposa, recebendo as medalhas

Ao termino de mais essa etapa alguns de nossos atletas receberam medalhas em premiação por suas excelentes performances no tiro esportivo, dentre os quais pudemos registrar em foto os colegas Marcos e Hélcio. Marcos é exímio atirador destacando-se no tiro com revólver em 4" e Hélcio atira em diversas modalidades tendo como destaque seus resultados com a Carabina de Ar Comprimido 4,5 mm.

Hélcio recebendo sua premiação do Instrutor Marcos Schmidt

O Calendário dos campeonatos do CTC está disponível para consulta em nosso SITE.

sábado, 3 de setembro de 2016

Novo Curso - Tiro com Arma Longa (O Caçador) com Hector AL

Hector AL - Posição em Pé com Apoio

O CTC - Centro Tático Cobras de Boituva apresenta aos atiradores o Curso de Tiro com Arma Longa (O Caçador) ministrado pelo instrutor Hector AL. Serão 8 horas de aula, sendo a parte teórica realizada pela manhã abrangendo os temas: Nomenclatura das Armas Longas, Nomenclatura das partes de armas, Mecanismos de funcionamento, Tipos de cano, Aparelhos de mira (Abertas e Óticas), Balística, Tipos de munição e nomenclatura dessas, Fundamentos do tiro e Posições de tiro com arma longa.

Após almoço, que é oferecido no próprio CTC, os alunos passarão à parte prática, na qual irão disparar 70 tiros usando carabinas .22 e rifles .38, nas várias posições de tiro aprendidas no curso.

Hector é Policial Civil e instrutor com grande experiência no uso de arma longa, com cursos de formação e especialização no uso de diversos aramamentos, dentre os quais fuzis e sub-metralhadoras.

Entre em contato com o CTC e reserve sua vaga no próximo curso pelo telefone 15-99185-8246 ou pelo e-mail atendimento@ctcobras.com.br. Assista ao filme com uma demonstração da instrução prática:


domingo, 7 de agosto de 2016

Tiro Policial de Combate - StressFire

Por: Francisco Pinto

Massad Ayoob atirando com seu Smith & Wesson modelo 13
calibre .357 Magnum, cano de 4". Photo by: Bill Dorvillier 

O treinamento de tiro policial em nosso país normalmente é realizado em sua forma mais convencional: na tranquilidade de um stand de tiro, com visada e tendo como objetivo um alvo humanoide de papel.  É praticamente um Tiro de Precisão, bem diferente do Tiro de Combate. Além de ser um treinamento simples, se pensarmos na complexidade muito maior do tiro em um enfrentamento real, ainda se treina muito pouco, com raras exceções de algumas corporações e tropas especiais. O policial, que pretenda estar preparado para o combate, acaba tendo que usar de recursos próprios para custear seu treinamento e a munição necessária para isso.

Moderno Stand de Tiro

  Logicamente o treinamento básico que citei não pode ser deixado de lado, sem estar firme nos fundamentos elementares do tiro não há aproveitamento em algum curso que proponha maior complexidade de situações. Superada essa fase, pode-se buscar algo mais avançado, de preferência que contemple o tiro sob estresse. O tão falado Stress Fire, que apesar de bastante comentado é, muitas vezes, praticado de forma equivocada. StressFire System é um sistema de treinamento, criado pelo Oficial de Polícia e Instrutor norte-americano Massad Ayoob com a colaboração de outros Instrutores policiais e que promove a preparação do profissional de segurança para o combate real. Essa preparação não é uma coisa tão simples, é necessário um treinamento que leva tempo para ser feito e que exige diversas mudanças em conceitos do atirador, muitos dos quais estão enraizados em seus hábitos, que vão desde o condicionamento mental para o combatente até a forma de empunhar a arma, as posições de tiro, como transportar sua arma ao progredir em variados ambientes, como fazer pontaria dentre outros detalhes.

Empunhadura do StressFire System

Esse conjunto de procedimentos tem origem em diversos estudos e experimentos realizados. Para se ter uma ideia do cuidado que envolveu o desenvolvimento do StressFire System uma das bases em que se fundamentou foi um estudo realizado pelo Departamento de Polícia de Nova York, que analisou mais de seis mil casos de enfrentamento violento entre seus policiais e marginais, num espaço de tempo de dez anos. A comprovação da eficácia desse sistema se confirmou nas estatísticas que constataram uma sensível redução de casos de morte de policiais em combate após sua adoção pelos Departamentos de Polícia de Nova York e Los Angeles.

Equipe anti-terror do Departamento de Polícia de Nova York

Durante uma situação de combate real diversas transformações acontecem em nosso corpo. Quando nos deparamos com a possibilidade de perdermos nossa vida, próximos de travar com nosso oponente um duelo mortal, experimentamos uma reação corporal de alarme. A adrenalina (epinefrina), mais poderoso hormônio de nosso corpo, é instantaneamente liberada e como resultado o sangue é drenado das extremidades para os grandes grupos de músculos e para as vísceras. A pressão sanguínea se eleva, assim como a taxa de batimento cardíaco, nosso rosto fica pálido, as mãos ficam trêmulas. Nossa visão perde percepção periférica, num fenômeno chamado de visão de túnel, concentrando seu foco na origem do perigo, que é nosso oponente. Toda essa transformação, que é característica dos mamíferos, prepara-nos para um esforço fora do normal, para defender nossa vida, o que na natureza aconteceria através de um enfrentamento corporal.



Esse instinto ancestral não poderia prever que usássemos, milênios mais tarde, uma arma de fogo em nossa defesa. Como resultado essas alterações do corpo terminam por prejudicar nossa habilidade de atirar eficazmente. As mãos trêmulas atrapalharão a estabilidade da arma, posições de tiro complexas não conseguirão ser coordenadas corretamente, aquelas movimentações táticas que você tanto treinou a ponto de torná-las num complexo balé sumirão de sua mente e a visão de túnel simplesmente o impedirá de focar o aparelho de mira.

Efeito da visão de túnel

É um pouco complicado saber que todo aquele treinamento feito no stand, concentrado no perfeito alinhamento de alça e massa de mira com o alvo estático, no controle de sua respiração, gatilho e etc, o prepararam para um campeonato de tiro esportivo e até servirão de base para outros treinamentos mais complexos, inclusive para o StressFire, mas não o prepararam para o tiro mais importante de sua vida, justamente aquele que você irá disparar para preservá-la.



Você, que treina com frequência, pode estar pensando consigo: "balela! eu já me condicionei, treinei tanto que vou sacar e alinhar minhas miras com o alvo automaticamente". Outro estudo realizado pela instituição norte-americana Police Foundation, que foi levado em consideração na gênese do sistema StressFire, atesta que a realidade é outra. Segundo a base de dados dessa entidade apenas 1 em cada 4 tiros disparados por policiais acertou o oponente. Um baixíssimo aproveitamento de 25%. Isso motivou vários departamentos de polícia norte-americanos a adotarem o treinamento de suas forças com o StressFire Sightpoint, um sistema derivado do Point Shooting, que numa tradução seria o Tiro Apontado. Técnica desenvolvida pelo Coronel britânico William Fairbairn (1885-1960) e depois aperfeiçoada por outro Coronel norte-americano Rex Applegate (1914-1998).
William Fairbairn e Rex Applegate

No Brasil uma técnica semelhante, um pouco mais simplificada, foi introduzida na década de 1980 pelo instrutor italiano Sérgio Coló Moore, de quem tive a felicidade e honra de ser aluno. Coló a chamava de Tiro Instintivo e a ensinou aos seus discípulos instrutores bem como treinou vários policiais com ela. Não sei por qual razão, após o falecimento de Coló e com o passar do tempo, ela deixou de ser divulgada. O que é lamentável pois, como demonstraram os estudos que embasaram o desenvolvimento do StressFire Sytem, ela é importantíssima para a sobrevivência policial. Está em nossos planos, em breve, oferecer esse treinamento em módulos para profissionais da segurança pública, privada e atiradores civis avançados.